quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Santa Mônica, rogai por nós!

Vocês se sentem desanimados porque rezam, rezam e nada acontece? Rezam todos os dias por suas famílias ou amigos queridos, pedindo a Deus a graça da conversão, da transformação dos corações, e, mesmo assim, nessa perseverança, parece que nada alcançam.

Pois então, espelhem-se em Santa Mônica. Sabem quem foi essa mulher? Ela, sim, foi uma pessoa perseverante em orações, súplicas e lágrimas... muitas lágrimas. Santa Mônica rezou mais de 20 anos por seu filho. E não somente rezava, como ia a igreja duas vezes ao dia, todo santo dia, pedindo para seu filho o mesmo que vocês hoje pedem para seus entes queridos: a conversão, a cura da alma, etc.

Sabem quem era o filho de Mônica? Nada mais, nada menos que Agostinho, o nosso grande e respeitado Santo Agostinho, bispo e doutor da igreja.

Nós, da comunidade, recomendamos a leitura de alguns trechos das confissões de Santo Agostinho, onde ele fala sobre sua mãe. É uma leitura deliciosa. Não precisam se intimidar com o tamanho do texto. Vocês começarão a ler e nem sentirão. E ainda tem mais: o que são algun minutos lendo tais trechos diante de vinte anos de orações, lágrimas e súplicas? Fala sério, né? Vamos conhecer um pouco mais sobre a história dos nossos santos.

Santa Mônica, rogai por nós como rogaste por seu filho.

A todos, uma oração perseverante!


Confissões de Santo Agostinho


Do alto estendeste a tua mão e arrancaste a minha alma de um abismo de trevas, enquanto minha mãe, tua fiel serva, chorava por mim, mais do que as mães choram pela morte física dos filhos. É que ela, com o espírito de fé com que a dotaste, via a morte da minha alma, e tu, Senhor, lhe ouviste os pedidos. Ouviste-a, e não lhe desprezaste as lágrimas que, brotando-lhe dos olhos, regavam a terra por toda parte em que orava.

Sim, tu a ouviste. Porque, de quem senão de ti veio aquele sonho tão consolador, que ela aceitou tornar a viver comigo e ter-me à sua mesa, o que antes recusava fazer, por horror e aversão às blasfêmias do meu erro? Nesse sonho, viu-se de pé sobre uma régua de madeira, e um jovem luminoso e alegre lhe foi sorridente ao encontro, enquanto ela estava triste e amargurada. Perguntando-lhe os motivos da tristeza e das lágrimas cotidianas, não por curiosidade, mas para instruí-la, como acontece muitas vezes. E respondendo ela que chorava a minha perdição, ele a confortou, aconselhando-lhe que prestasse atenção e visse que onde ela se encontrava aí estava também eu. Ela olhou e me viu diante de si, de pé, na mesma régua.

De onde viria tal sonho, senão do fato de teres ouvido a voz do seu coração, ó Bondade onipotente, que cuidas de cada um como se de um só cuidasses, e de todos como se fossem um só? De onde vem ainda o seguinte fato? Quando ela me contou o sonho, tentei dizer-lhe que ela não devia perder a esperança de um dia vir a ser como eu. Mas ela me respondeu imediatamente, sem hesitação: "Não, não me foi dito: 'onde ele está, aí estarás tu'. Mas sim: 'onde estás, aí estará também ele'".





Confesso-te, Senhor, tanto quanto posso me lembrar, e nunca o escondi: mais do que o próprio sonho, abalou-me aquela tua resposta, dado por intermédio da solicitude de minha mãe. Ela não se perturbou diante de uma interpretação sutil, porém falsa, e logo percebeu o que devia ser visto e o que eu na verdade não tinha visto antes de ela contar. Por esse sonho, foi anunciada com antecedência, a essa piedosa mulher, para sua consolação na aflição presente, uma alegria que só teria muito tempo depois.

Passaram-se de fato nove anos, durante os quais eu me revolvi no lodo desse profundo abismo e nas trevas do erro, tentando levantar-me, mas afundando-me cada vez mais. No entanto, aquela viúva casta, piedosa e sóbria - tal como gostas que sejam - sustentada sempre pela esperança, mas sem poupar lágrimas, não cessava de chorar por mim diante de ti, em todos os momentos de suas orações. Desse modo, chegavam à tua presença as preces dela, mas tu permitias ainda que me revolvesse e Debatesse, naquelas trevas.


Em Roma, fui atingido pelo flagelo dos sofrimentos físicos, e já me encaminhava para o inferno, carregado de todas as faltas, cometidas contra ti, contra o próximo e contra mim mesmo, numerosas e graves, além da culpa original, pela qual todos morremos em Adão. Nenhuma delas me tinha sido perdoada pelos merecimentos de Cristo, nem ele tinha ainda apagado com a sua cruz a inimizade que eu, pelos meus pecados, contraíra contigo; e como poderia fazê-lo um fantasma na cruz, como eu o considerava (2)? Tão falsa me parecia sua morte corporal, quanto era verdadeira a morte de minha alma; e tão verdadeira era a morte da sua carne, quanto era falsa a vida da minha alma. Aliás, disto eu não me persuadia. Entretanto, a febre aumentava, e eu ia morrer em perdição. De fato, morrendo então, para onde iria eu, senão para o fogo e para as penas estabelecidas por tua lei para um comportamento semelhante ao meu? Minha mãe ignorava o perigo que eu corria. Mas bem longe continuava a rezar por mim.

Mas tu, que estás presente em toda parte, a ouvias onde ela estava, e tinhas compaixão de mim, onde eu me encontrava. E de novo deste a saúde do corpo. Minha alma sacrílega, porém, estava ainda doente; de fato, mesmo diante de perigo tão grave, eu não desejava o batismo. Eu era melhor quando menino, quando pedi ao amor de minha mãe que eu fosse batizado, como já relatei (3). Cresci. E, para vergonha minha, era tão louco que desprezava as prescrições de tua medicina. Mas não permitiste,
naquela condição de pecado, que eu sofresse as duas mortes; o coração de minha mãe receberia um golpe, do qual não se recuperaria jamais. Não é fácil explicar o que ela sentia por mim: sofria muito mais agora ao dar-me à luz pelo espírito, do que quando sofreu as dores do parto natural (4).

Não vejo como ela se recuperaria, se a minha morte ocorrida em tais condições, tivesse ferido as entranhas do seu amor. E assim, para onde teriam ido tantas orações, tão constante e ininterruptas, senão para junto de ti? Tu, ó Deus da misericórdia (5), não podias desprezar o coração contrito e humilhado (6) de uma viúva pura e modesta, fiel nas esmolas e devota servidora de teus santos, que não deixava passar um dia sem apresentar ao altar a sua oferta, que duas vezes por dia, pela manhã e pela tarde, ia à igreja, não para inúteis tagarelices, conforme o costume de certas senhoras, mas para ouvir tua palavra e fazer-se ouvida por ti em suas orações.


Ela era assim por graça tua: poderias, acaso, recusar ajudá-la, não te importando com aquelas suas lágrimas, que não te pediam nem ouro, nem prata, nem outros bens frágeis e passageiros, senão apenas a salvação de seu filho? Certamente não, Senhor. Pelo contrário, estavas a seu lado e escutavas, realizando teu plano preestabelecido. É certo que não a enganavas nas visões e respostas que lhe davas, tanto aquelas que já recordei (7), como outras que não relembrei. Ela as conservava cuidadosamente no coração e as apresentava a ti, em oração, como promessas por ti subscritas. De fato, tua misericórdia é eterna (8), e através de tuas promessas queres fazer-te devedor daqueles aos quais perdoas todas as dívidas.

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